Trans na Mídia: I

"As travesti chegou e te convidam pra roubar Uma pega a carteira, outra pega o celular."

Os maiores "hits" da internet relacionados à travestis nos trazem essa mensagem. Assaltos e delegacias, junto com a humilhação e ridicularização dessas pessoas. Tomamos como praticamente certo o envolvimento das travestis com o sub-mundo do crime. Interiorizamos a imagem que nos é passada pelos meios de comunicação. E daí passamos a reproduzir essa imagem, marginalizando essa parte da população. E o acontece com os/as marginalizados/as? Eles são apagados da consciência da sociedade. Ignorados/as até que passem a incomodar as "pessoas de bem".

É certo que a maioria das pessoas apenas se importa com o próprio umbigo, ignorando tudo aquilo que está fora de sua realidade. Porém, aqui, vamos atentar a um ponto específico.

Qual a imagem que a sociedade tem sobre as mulheres trans a partir da mídia? Como os meios de comunicação desenham a realidade e a imagem dessas mulheres?

Basicamente, devemos fazer uma pequena diferenciação. Essa mulher é rica ou pobre? É famosa ou anônima? Influente ou desconhecida? De um caso para outro, o tratamento é diferenciado.

No geral, ser trans já te qualifica para se tornar invisível para a mídia (e a sociedade). Caso contrário, aqui tentarei discorrer sobre o que costuma acontecer.

De forma geral, alguns pontos costumam se repetir.

Não importa o teor da notícia, ela sempre se iniciará com "travesti".

Você já viu alguma notícia ter como título "Mulher cis Maria vai estrelar novo filme" ou "Mulher Mariana assina contrato" ? Caso a resposta seja sim, favor enviar a matéria para cá. Ser travesti se torna uma espécie de aviso, onde se deixa bem claro que a pessoa não é "mulher de verdade".

O gênero da pessoa provavelmente não será respeitado.

Sim, a infame expressão "o travesti" é repetida várias e várias vezes. Nem mesmo na morte são respeitadas. Mais uma vez pode-se ver um reforço da segregação entre mulheres cis e trans. "Não esqueça que é O travesti, não uma mulher. Mulheres 'de verdade' não são assim".

Farão questão de destacar o nome de nascimento.

É de praxe a utilização do nome de registro nas notícias que envolvem travestis. Frases como "João, mais conhecido como Maria" são constantes, e mais do que isso, são degradantes. A quem interessa saber o nome dado no nascimento? Essa informação é realmente importante para o relato do fato?

Mais do que algo que é colocado como "necessidade" numa notícia, o uso do nome de registro é mais uma forma de reproduzir o pensamento que a transexualidade é algo de quem quer "virar" homem ou mulher.