Quantas travestis você viu na universidade hoje?
- tdeque1
- 17 de dez. de 2014
- 3 min de leitura
É uma pergunta direta. Quantas? Existem boatos que na minha universidade existe uma. E eu acho que já a vi. Mas ela é só uma. Uma entre centenas de pessoas que eu vejo todos os dias. Entrar numa universidade, seja federal ou privada, é um processo “simples e fácil” para qualquer pessoa. Fazer a inscrição (e talvez pagar por isso), estudar (talvez pagar por isso também), fazer a prova e aguardar o resultado.
Mas, infelizmente, a realidade para pessoas trans não é essa. O processo é desgastante e humilhante desde o início. Para realizar a inscrição para o vestibular as pessoas trans são obrigadas a usarem o nome de registro, que foi imposto, e não o nome social. Infelizmente ainda não há uma lei que obrigue as faculdades/universidades a aceitarem o nome social. E as coisas só vão piorando...
Na hora do exame de seleção são obrigadas/os a serem chamados em público pelo nome que as/os causam dor, depois de selecionados/as na hora da frequência o mesmo processo... E, como se não bastasse, tem que lidar com o preconceito e opressão das pessoas que as/os rodeiam, inclusive as/os professoras/es.
Mas para prestar vestibular o indivíduo precisa ter concluído o ensino fundamental. Que, na maioria das vezes, não é o caso de pessoas trans, principalmente das travestis. Depois que se reconhecem como tal, aquelas que se assumem para a família e começam o processo de transição, na maioria das vezes, são empurradas para fora do ciclo familiar. “Você é homem!”, “Filho meu não vai se vestir como mulherzinha!”, “Não quero aberração dentro de casa!”. Depois disso, elas precisam de um modo de sobreviver, mas qual empresa, loja, ou seja o que for, vai contratar “uma aberração”? Outro processo de rejeição: são cuspidas pelo mercado de trabalho.
Mas elas precisam sobreviver! E qual a saída? As esquinas. A prostituição. E a “última parte” do processo de rejeição: são vomitadas pela sociedade. Olhe ao seu redor, onde se encontram as travestis, homens e mulheres trans, pessoas não-binárias, transgêneros e etc? Esquinas, salões de beleza ou em ateliê, escondidas por trás de strass e penas.
Nós diminuímos as pessoas trans. E tiramos seus direitos todos os dias. Quando nós debochamos de alguém dizendo que ela “parece um traveco”. Quando nós dizemos que mulheres trans não passam de “homens de saias”, ou que não são mulheres “de verdade”. Nós vivemos em uma sociedade onde as pessoas cis são as privilegiadas, as opressoras.
E na universidade, espaço onde deveríamos repensar a maneira que vivemos e formar profissionais comprometidos a melhorar onde vivemos, estamos reproduzindo preconceitos. Estamos reproduzindo transfobia. E ignorando a realidade.
Quantas travestis você viu na sua universidade hoje? Se a resposta for sim, a quantidade era proporcional ao número de pessoas cis? A recepcionista do hotel que você se hospedou nas férias era mulher trans? O médico que você se consulta é um homem trans? Pense nisso...
O acesso de pessoas transexuais não é citado nas pesquisas oficiais. Afinal, quem se importa?
Pessoas invisíveis, vidas invisíveis.
Por uma universidade sem preconceitos e segregação.
Por uma universidade com mais diversidade.
Cis: “Uma pessoa cis é uma pessoa na qual o sexo designado ao nascer + sentimento interno/subjetivo de sexo + gênero designado ao nascer + sentimento interno/subjetivo de gênero, estão “alinhados” ou “deste mesmo lado” – o prefixo cis em latim significa “deste lado” (e não do outro), uma pessoa cis pode ser tanto cissexual e cisgênera, mas, nem sempre, porém em geral ambos”.
Retirado do blog Transfeminismo
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